Reconstrução mamária utilizando o tecido abdominal oferece o resultado mais natural possível quando comparado com as outras técnicas. A sua utilização depende das condições da paciente e do treinamento do cirurgião plástico.
Existem diversos tipos de retalho e a compreensão de cada técnica pode ser um pouco confusa. Assim, entender a anatomia do abdome pode ser útil. O abdome é constituído por camadas. A pele, é a camada mais externa. Abaixo da pele, está a camada de gordura. Em seguida, está a fáscia, que é uma camada de tecido fibroso que recobre a musculatura do abdome. Logo abaixo da fáscia, estão os músculos reto abdominais.
Dois vasos principais nutrem estes músculos: artéria e veia epigástricas superiores e inferiores. A artéria e veia epigástricas inferiores emitem pequenas ramificações que atravessam o músculo reto abdominal e irrigam a camada de gordura e a pele do abdome. Estes pequenos vasos são chamados de perfurantes. Outro conjunto de vasos conhecidos como artéria e veia epigástricas superficiais também contribuem com o suprimento sanguíneo da pele e da gordura do abdome.
O tecido retirado do abdome pode conter todas as camadas do abdome ou apenas algumas. Além disso, o tecido pode ser levado até o tórax mantendo o seu suprimento sanguíneo conectado ao abdome (chamado de retalho pediculado), ou pode ser desconectado do abdome e reconectado aos vasos sanguíneos do tórax (chamado de retalho livre) usando microcirurgia.
Vantagens
- Forma e consistência natural da mama
- Maior facilidade em simetrizar com a mama contralateral
- Melhora do contorno corporal com a abdominoplastia
- Não há necessidade de implantes
Desvantagens
- Cirurgia mais longa
- Cicatriz da abdominoplastia
Retalho DIEP
DIEP é a sigla para Deep Inferior Epigastric Perforator flap (retalho da perfurante da epigástrica inferior profunda). Neste retalho, o tecido do abdome constituído por pele, tecido subcutâneo, artéria e veia epigástrica inferior profunda e suas perfurantes, é transferido para o tórax e os pequenos vasos são reconectados mediante microcirurgia. A cicatriz resultante no abdome é similar a de uma abdominoplastia estética. O músculo do abdome, diferentemente do retalho TRAM, é preservado nesta técnica. Isso resulta em menos dor, melhor recuperação e menor risco de complicações abdominais. Esta é a forma mais avançada de reconstrução mamária e é a técnica preferencialmente utilizada pela nossa equipe. Mesmo oferecendo muitas vantagens à paciente, o procedimento é complexo e requer equipe com treinamento altamente especializado para a sua execução. Infelizmente, poucos cirurgiões plásticos são capacitados para realizá-la. O esforço cirúrgico é recompensado pelos excelentes resultados estéticos.
Retalho DIEP
Retalho SIEA
SIEA é a sigla para Superficial Inferior Epigastric Artery flap (retalho da artéria epigástrica inferior superficial). Este retalho é muito semelhante ao DIEP. Ambas as técnicas usam pele e gordura do abdome para reconstruir uma mama mais natural mediante microcirurgia. Ao contrário do retalho TRAM, os retalhos DIEP e SIEA preservam os músculos reto abdominais. A principal diferença entre eles é o vaso que nutre o retalho. Os vasos do retalho SIEA são encontrados logo abaixo da pele, enquanto os vasos do DIEP se localizam abaixo e dentro dos músculos reto abdominais. Entretanto, menos de 20% das pacientes tem a anatomia favorável para este procedimento. Não há exame pré-operatório confiável para fazer esta avaliação e a decisão de utilizar este retalho é feita no intraoperatório.
Retalho TRAM
TRAM é a sigla para Transverse Rectus Abdominis Myocutaneous flap (retalho miocutâneo transverso do reto abdominal). Este retalho foi substituído pelo retalho DIEP, que é o padrão ouro da reconstrução mamária, devido aos riscos de complicações decorrente do enfraquecimento da parede abdominal. Há basicamente 3 tipos de retalho TRAM descritos. A diferença entre eles é a quantidade de músculo que é retirada do abdome e como o retalho é transferido para o tórax.
- Retalho TRAM pediculado
Este retalho constituído por pele, gordura e um dos músculos reto abdominais, ou ambos em caso de reconstrução bilateral, é tunelizado sob a pele e levado até o tórax para criar uma nova mama. A recuperação é difícil e dolorosa. As pacientes precisam se adaptar a perda de força abdominal. Outras possíveis complicações são as hérnias abdominais, necrose gordurosa e alterações de sensibilidade no abdome.
- Retalho TRAM livre
Neste procedimento, o retalho é desconectado do abdome e reconectado utilizando microcirurgia. Apenas uma parte do músculo é transferida. A principal vantagem sobre o retalho TRAM pediculado é a melhor irrigação do retalho e menor chance de necrose gordurosa.
- Retalho MS-TRAM
MS-TRAM é a sigla para Muscle Sparing – Transverse Rectus Abdominis Myocutaneous flap (retalho miocutâneo transverso do reto abdominal – preservador de músculo). Este procedimento oferece os benefícios do retalho TRAM livre, mas com menos complicações porque a maior parte do músculo reto abdominal é poupada. A quantidade de músculo transferida junto com o retalho é mínima. Esta técnica só é utilizada quando a anatomia da paciente não permite a realização dos retalhos DIEP ou SIEA.